Jesus vs Moisés


Jesus, melhor e superior!

A lição desta semana está baseada em vários versículos de Hebreus, e também fala de superioridade. Mas, neste caso, a superioridade não é causada pela evolução tecnológica. Trata-se de uma supremacia pessoal absoluta, que nunca será superada. Não vai aparecer outro Jesus melhor do que o Jesus que temos na Bíblia, pois isso é impossível.

O autor de Hebreus usa a palavra "superior" (ou "melhor") treze vezes. Em síntese, ele apresenta Jesus como superior aos profetas (1:1-3), aos anjos (1:4-2:18), a Moisés (3:1-4:13) e a Arão e o sacerdócio levítico (4:14-10:18). Além disso, Cristo é apresentado como o caminho novo e superior (10:19-12:29). Intercalando teologia e exortação de maneira sutil e altamente elaborada, resultando no que é considerado o grego de melhor qualidade do Novo Testamento, o autor pinta um quadro magnífico de Cristo.

O objetivo é apontar a centralidade de Jesus. Para isso, o apóstolo usa uma série de argumentos contrastando Cristo e outros personagens bíblicos. Note que o objetivo não é rebaixar ou denegrir os outros personagens, mas exaltar a Cristo. Na verdade, a fim de que Cristo ganhe ainda mais destaque, a qualidade dos personagens contrastados deve ser preservada.


Ao falar da superioridade das coisas do novo concerto, a Bíblia nunca despreza as coisas da antiga aliança. Se existe descontinuidade, há também continuidade. Em certo sentido, os elementos do antigo convivem com o novo, que incorpora o antigo e dá-lhe novo sentido e nova expressão. Isso indica que nós também devemos manter essa enfase: reconhecer o que é superior ou excelente, sem desprezar o que é bom ou ótimo. Alguns cristãos têm a tendência de menosprezar as coisas ligadas ao Antigo Testamento. Já em alguns círculos adventistas a tentativa de resgatar o valor de elementos do Antigo Testamento pode levar à negligência daquilo que é único, distinto e prioritário no Novo Testamento. É importante manter a perspetiva bíblica, reconhecendo o novo sentido que Cristo confere às verdades bíblicas e aproveitar o tesouro sagrado de ambos os Testamentos.

Jesus é Superior aos Profetas
Os profetas foram pessoas maravilhosas. Eles revelaram a mensagem de Deus, denunciaram as injustiças e pregaram novos tempos. Ao enfrentar as iniquidades do estabelecido, a maioria perdeu a vida. Mas, como argumenta o autor de Hebreus, Jesus é superior. Ele traz a revelação final e dá a vida para salvar a humanidade. Embora a revelação dos profetas continue válida, a revelação do Filho é mais profunda, definitiva. O quadro a seguir ajudará a visualizar melhor o contraste entre Jesus e os profetas:


Profetas
Jesus
Número
Muitos
Único
Época
Antigamente
Últimos dias (Jesus inicia uma nova era)
Audiência
Pais
Nós
Revelação
Múltipla, fragmentária
Perfeita, final (alcança o alvo)

Jesus é Superior aos Anjos
Os anjos (não-caídos) são seres fantásticos. Eles protegem e guiam. Na época em que Hebreus foi escrito, algumas pessoas provavelmente se sentissem tentadas a adorá-los. A adoração de anjos no mundo pagão era uma realidade. Os crentes hebreus em questão provavelmente não conseguiam perceber a volta de Jesus, ou talvez duvidassem do Seu poder para resolver os seus problemas, incluindo a perseguição, e então começaram a procurar  ajuda em outros seres espirituais. No judaísmo da época, talvez houvesse uma excessiva confiança em anjos tanto para a libertação nacional quanto para a proteção individual. Isso pode acontecer também hoje, numa época em que se fala muito de anjos e as pessoas não sabem onde Jesus está ou o que Ele faz. Mas o autor de Hebreus diz que Jesus é superior aos anjos, embora se tenha humilhado temporariamente. Cristo pode salvar e ajudar todas as pessoas, num sentido real (Hb. 2:18; 4:16).

O autor usa uma sequência de sete passagens do Antigo Testamento (todas tiradas da Septuaginta) para enfatizar a superioridade do Filho sobre os anjos. A maioria dessas passagens não fala de Cristo, no seu contexto original, nem usa exatamente as mesmas palavras. Mas os métodos hermenêuticos dos autores do Novo Testamento, incluindo a alegoria, a interpretação pesher (típica da comunidade de Qumran) e o midrash, eram diferentes dos nossos. Uma vez que Jesus era considerado o cumprimento da expectativa judaica, era inevitável que os cristãos buscassem no Antigo Testamento a evidência em favor de Cristo. A aplicação dos textos a Cristo, portanto, estavam em harmonia com os métodos de interpretação da época. As citações do Antigo Testamento são:

  1. Salmo 2:7 (Hb 1:5a).
  2. II Samuel 7:14 (Hb 1:5b).
  3. Deuteronômio 32:43 (Hb 1:6).
  4. Salmo 104:4 (Hb 1:7).
  5. Salmo 45:6 e 7 (Hb 1:8 e 9).
  6. Salmo 102:25-27 (Hb 1:10-12).
  7. Salmo 110:1 (Hb 1:13).
O ponto central do autor de Hebreus é que, por mais poderosos e gloriosos que sejam os anjos, o Filho é superior. Os anjos são seres criados; o Filho não é criado. Os anjos não podem ser adorados; o Filho é adorado até pelos anjos. Os anjos são subordinados a Deus; o Filho partilha o trono do Pai e reinará sobre tudo. Ou seja, a natureza, a dignidade e a função do Filho são de outra ordem; o Filho é Deus e deve ser tratado como Deus. O fato de o Filho herdar um "nome mais excelente" (Hb 1:4) sintetiza a Sua superioridade. Esse nome, Kurios (Senhor), é a versão grega de Yahweh, o nome do grande "Eu Sou" do Antigo Testamento.

A exortação encontrada em 2:1-4 é baseada no argumento da superioridade do Filho sobre os anjos, como o "portanto" (ou "por esta razão") de 2:1 indica. No primeiro século, era comum a ideia de que a lei fora mediada pelos anjos (ver At 7:38,53; Gl. 3:19), embora esse detalhe não seja mencionado claramente no Antigo Testamento (Deuteronômio 33:2 diz que o Senhor veio com "miríades de santos", o que é interpretado como sendo anjos). O autor de Hebreus, sem diminuir o grande papel dos anjos na transmissão da lei, exalta a salvação anunciada por Jesus. Se a desobediência à lei trouxe punição, muito pior é a consequência de desprezar a salvação proporcionada por Jesus. Alguns comentaristas têm chamado a atenção para a seguinte estrutura do argumento desenvolvido nesses versos, onde o autor usa um arrazoado indutivo do leve para o pesado:

  • as verdades ouvidas (2:1)............aqueles que a ouviram (2:3)
  • pelos anjos (2:2).........................pelo Senhor (2:3)
  • palavra (2:2)...............................salvação (2:3)
  • falada (2:2).................................anunciada (2:3)
  • válida (2:2)..................................confirmada como válida (2:3)
  • justo castigo (2:2).......................sem escape (2:3).

Jesus é Superior a Moisés
No contraste entre Moisés e o Filho, o autor parece criar um paradoxo. Depois de demonstrar a superioridade do Filho sobre os anjos, porque é que ele decide comparar o Filho com Moisés, um ser humano? A questão é que, entre os judeus do primeiro século, Moisés gozava de uma estima ilimitada, sendo considerado a maior pessoa que já existira. A sua reputação elevada devia-se ao fato de ter liberto os israelitas do Egito, criado a nação e formulado a lei. Seu status era até superior ao status dos anjos. Não é por acaso que o nome de Moisés aparece mais vezes na Bíblia do que qualquer outro nome, com exceção dos nomes de Jesus e Davi (são 847 vezes no total, sendo 762 no Antigo Testamento e 85 no Novo Testamento).
Moisés foi fiel ao enfrentar a dureza de liderar uma nação em formação. Ele facilitou o acesso de todo um povo a Deus. Mas a fidelidade de Jesus foi ainda maior ao sofrer as humilhações e a morte em favor da humanidade. Ele abriu o acesso a Deus para todos os crentes. Além disso, Moisés era um servo na casa de Deus, enquanto Jesus era o Filho e o construtor da casa. Portanto, Jesus é superior a Moisés, que era um tipo de Jesus. Para os judeus do primeiro século, essa comparação deve ter sido motivo de reflexão (ou mesmo surpresa) e conforto.

Jesus é Superior a Arão
Após comparar Jesus e Moisés, o autor contrasta Jesus e Seu sacerdócio com Arão e o sacerdócio levítico. Provavelmente, ele deixa esta comparação por último e dedica mais espaço a ela porque é aqui que o seu público-alvo enfrenta o maior problema. Alguns cristãos hebreus talvez sentissem a tentação de voltar ao sistema judaico, com suas cerimônias altamente visuais e simbólicas. Assim, era preciso ressaltar que, embora o sistema sacrificial fosse visível, era apenas a sombra da realidade, enquanto Jesus, embora ministrando em um santuário invisível (para nós) no Céu, era a realidade. A superioridade de Jesus como sumo sacerdote é evidenciada pelos seguintes contrastes:

SACERDOTES LEVÍTICOS
JESUS
Apontados por "comando"
Apontado por "juramento"
Pertenciam à ordem de Arão
Pertence à ordem de Melquisedeque
Limitados pela "morte"
Intercede "para sempre"
São pecadores
É isento de pecado
Ofereciam sacrifícios "diários" (repetidos)
Ofereceu um sacrifício de "uma vez por todas" (não se repete)

Conclusão

É importante ressaltar a singularidade de Jesus. Numa época de pluralismo religioso, o testemunho das Escrituras continua a dizer que Jesus é o único caminho para Deus. Não existe outra pessoa como Jesus.
Sublinhe que, numa época de valorização da qualidade, Jesus é essência da excelência. O retrato da magnificência de Jesus pintado em Hebreus não é igual aos retratos da "superioridade" dos políticos preparados sob encomenda aos estrategistas de publicidade e marketing. O retrato de Jesus nasce da fé, é baseado na realidade e recebe confirmação de Deus.

É bom também lembrar que a ênfase deste estudo está na superioridade de Jesus em Seu estado de humilhação. O Filho percorre uma trajetória em formato de V: (1) Ele ocupava um lugar de honra acima dos anjos, (2) condescende em sofrer a morte pela humanidade, (3) é exaltado e (4) recebe novamente honra e glória. Se quisermos ser exaltados, devemos incorporar a mesma natureza de serviço revelada por Jesus.


Diferenças entre Jesus e Moisés
Moisés – Um rei malvado tentou matá-lo enquanto era bebé –Ex 1:22
Jesus – O rei Herodes tentou matar Jesus enquanto bebé – Mt 2:16

Moisés – Foi escondido do rei mau – Faraó – Ex 2:2
Jesus – Um anjo disse para esconder a criança do rei Herodes – Mt 2:13

Moisés – Foi enviado ao Egipto para preservar a sua vida – Ex 2:3,4
Jesus – Foi levado para o Egipto para preservar a sua vida – Mt 2:13-15

Moisés – Foi salvo por uma mulher: Mãe Ex 2:3; Miriam Ex 2:4; Filha de Faraó Ex 2:5-10
Jesus – Salvo e ajudado pela sua mãe – Maria – Mt 2:14

Moisés – A filha de Faraó adota Moisés – Ex 2:10
Jesus – José adotou Jesus – Mt 1:25

Moisés – Tornou-se príncipe do Egito – Ex 2:10
Jesus – É o príncipe da Paz – Is 9:5; Mt 28:18; Lc 2:14

Moisés- Longo período de silêncio desde a sua infância até à idade adulta
Jesus – Longo período de silêncio desde a sua infância até à idade adulta

Moisés – Tinha uma identidade secreta
Jesus – Segredo Messiânico – Jesus o Filho de Deus

Moisés – Tentou salvar um parente hebreu – Ex 2:12,12
Jesus – Veio para salvar primeiro os parentes hebreus – Mc 7:26-28

Moisés – De príncipe passou a mendigo – Ex 2:15-19
Jesus – De Deus passou a homem – Jo 1:1-3; Mc 6:3

Moisés – Salvou uma mulher junto ao poço – Ex 2:15-19
Jesus – Salvou uma mulher junto ao poço – Jo 4

Moisés – Tornou-se pastor – Ex 3:1
Jesus – Ele é O Bom Pastor – Jo 10:11

Moisés – A sua missão foi resgatar os escravos israelitas do Egipto
Jesus – A sua missão foi resgatar os escravos do pecado do mundo

Moisés – Foi amado e suportado no seu ministério pela sua irmã Miriam (no Hb Miryam)
Jesus – Foi amado e suportado no seu ministério pela sua mãe (No Hb Miryam)

Moisés – Foi muitas vezes rejeitado pelos seus
Jesus – Foi muitas vezes rejeitado pelos seus irmãos

Moisés – No Monte Sinai ele recebe a Lei de Deus – Ex 20:1-31:18; 34:1-35
Jesus – No monte das bem-aventuranças ele transmite as “novas leis de Deus” – Mt 5

Moisés - Passou 40 dias em jejum na montanha - Ex 24: 18; 34:28
Jesus – Passou 40 dias a jejuar no deserto – Mt 4:2

Moisés – Faz sinais e milagres
Jesus – Faz sinais e milagres

Moisés – Oferece a sua vida para a salvação do seu povo após o pecado do bezerro de ouro – Ex 32:32,33
Jesus – Oferece a sua vida para salvação do mundo – Is 53:12; Rm 5:12; 6:10; 2 Co 5:15-21; Cl 1:19,20; 2:14,15; 1 Jo 1:7; 2:2… etc

Moisés – É o profeta da antiga aliança
Jesus – É o profeta, sacerdote e rei de uma nova e eterna aliança.


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